Antonio Riccitelli analisa o cenário das eleições de 2018 com a Operação Lava Jato
Em ano eleitoral, os eleitores precisam de cuidados para saber o real impacto que as investigações terão sobre os candidatos do pleito; entenda
As eleições presidenciais de 2018 talvez representem uma das mais importantes e enigmáticas eleições de nossa novel e instável democracia.
Apesar do recente amadurecimento político do povo brasileiro, decorrente de complexos e angustiantes, porém, necessários e relevantes, processos políticos, jurídicos e institucionais, o eleitor ainda encontra inúmeros obstáculos para o exercício do voto consciente.
Se, por um lado, a tecnologia das redes sociais favorece a rápida identificação dos antecedentes dos candidatos, por outro, o grande número de partidos políticos, o fisiologismo que os reveste e a falta de lideranças legitimadas pela consagração popular contribuem, sobremaneira, para dificultar a melhor escolha de candidatos.
Trata-se de um fenômeno claro, de falta de representatividade. O eleitor não consegue identificar padrões éticos, experiência administrativa e boas práticas de gestão pública em candidatos que minimamente o represente.
O obscuro cenário agrava-se com o surgimento de uma classe de candidatos, representados por aqueles que integram o grupo de investigados, alguns já réus, da maior operação anticorrupção da história do Brasil, a Lava Jato. Muitos nem serão candidatos outros, provavelmente, beneficiados por condições socioeconômicas privilegiadas, garantirão, a um elevado custo, utilizando o expediente legal de infindáveis recursos administrativos e jurídicos, o direito de serem votados.
Por conseguinte, ainda teremos candidatos viabilizados por coligações, essencialmente fisiológicas e intempestivas, decorrentes da falta de legitimidade ou de vedações legais inerentes as suas condições de investigados, réus ou condenados. Estes últimos serão impedidos de participar da ciranda eleitoral devido à Lei Ficha Limpa.
Assim, percebe-se o verdadeiro paradoxo das eleições que se avizinham, emblemáticas para o futuro da manutenção da democracia no Brasil, valorizadas pelas recentes turbulências de processos políticos e jurídicos que o país vivenciou, como o de mais um amargo impeachment presidencial e de mudanças, algumas inusitadas, promovidas a partir de decisões apertadas, exaradas pelo Supremo Tribunal Federal.
O sistema eleitoral brasileiro terá, entre outras, a relevante missão de minimizar a frustração do esperançoso e ávido eleitor brasileiro, que poderá votar em candidatos oficialmente registrados, porém legalmente impedidos de assumirem seus mandatos. Eis aí mais um item componente do alto custo da Democracia.
Link original deste artigo: Último Segundo – iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/colunas/antonio-riccitelli/2018-04-16/lava-jato-eleicoes-2018.html Foto: Jr./ ASICS/ TSE