A recente e ampla greve dos caminhoneiros que afeta o transporte vem, definitivamente esclarecer pontos, talvez, ainda obscuros para uma boa parcela da população, alguns merecem destaque.
Para o trabalhador brasileiro e a sociedade, em geral, a percepção da dependência do transporte rodoviário assusta, angustia e desola. O impacto dos efeitos da paralisação promovida pelos principais Sindicatos e Associações de Caminhoneiros, impondo ausência ou escassez de entrega de insumos básicos, incluindo remédios, produtos cirúrgicos, bem como no transporte coletivo, é preocupante.
Para o Governo, transparece a pseudo sensação de poder, da fragilidade do sistema, do preço a ser pago pela opção e manutenção do sistema de transportes rodoviário.
Nada acontece por acaso, particularmente tratando-se de políticas públicas. Decisões tomadas por governantes, gestores públicos, produzem consequências duradoras, imprevisíveis, podem durar anos, muitas vezes décadas. Nos idos de 1956, durante o Governo de Juscelino Kubitschek, optou-se por grandes investimentos no setor de transporte rodoviário. Instalaram-se no Brasil as grandes montadoras, surgiram os movimentos sindicais que tiveram importante papel na geração renda e empregos.
É de conhecimento público ser o transporte ferroviário mais eficiente e econômico que o rodoviário, transporta o equivalente a carga de vinte a trinta caminhões por viagem, preserva o meio ambiente, é antipoluente O baixo custo por kilómêtro rodado, representados pela alta durabilidade dos componentes e facilidade de manutenção, quando comparados aos altos custos de aquisição, consumo e manutenção dos caminhões e das rodovias.
As vantagens do sistema de transporte ferroviário são gritantes, permitiria ainda a criação de uma extensa malha ferroviária que atenderia o transporte coletivo, essencial para um país com as dimensões continentais do Brasil.
Eis algumas das razões que exigem de um gestor público, experiência, conhecimento ou, no mínimo bom assessoramento. As consequências de seus atos, principalmente os não planejados, ou divorciados da legislação em vigor, podem ser catastróficas.
O pior é registrar, o sistemático e reiterado descaso com que o povo brasileiro é tratado, além de ser obrigado a utilizar um sistema de transporte caro, de baixa qualidade, inseguro, agora depara-se com a pior face do problema, ou seja, a desproporcional instabilidade, fragilidade e descontinuidade da prestação dos péssimos serviços.
Nessas alturas dos acontecimentos e a crise no transporte , Deus nos livre de qualquer previsão alarmista, entretanto não há como ignorar o acúmulo de nuvens carregadas no horizonte pátrio, agora, não mais com a incerteza sobre a lista de potenciais candidatos para as eleições de outubro próximo, mas sim, impregnadas com o denso pesadelo da incerteza de suas realizações.
Link original deste artigo: Último Segundo – iG @ http://ultimosegundo.ig.com.br/colunas/antonio-riccitelli/2018-05-28/transporte-abastecimento-caminhoneiros.html Foto: Agência Brasil